Nunca escrevi um texto a pedido de alguém, sempre há uma primeira
vez!
Coitada das duas, da Antonia e da Ophelia, a Antonia que pensa que é
a dona da Ophelia e da Ophelia que vive presa num vaso dentro de um
apartamento, nunca experimentou a liberdade de estar na natureza, é
cria de cativeiro... Na floricultura pelo menos tinha a companhia das
outras orquideas sem donos e sem nomes. Coitado mesmo sou eu, que
nunca leu Sheakspear e nem sabe da história da Ophelia, e mais
coitado ainda se Caeiro me visse falar isso de uma planta. Meu Deus!
Falar que uma planta é uma coitada. Eu não sei nada a respeito da
morte dele, mas se foi enterrado está se revirando no túmulo!
Coitado do Caeiro se pudesse ler esta bobagem que escrevo...
Eu estou aqui, olhando para uma foto da Ophelia florida, tentando
imaginar o que ela sente ou pensa. Ela não sente ou pensa é nada.
Ela é que é feliz! Não tem cérebro, essa porcaria que só me enche
a cabeça...
É...
Viva a Ophelia que não tem cérebro, que não sabe que exite mas
existe, que não sabe que é orquídea e sabe florir, que não fala
e nem escreve. Se é feliz? Provavelmente não, plantas não lêem e
nem escrevem dicionários pra definir, não criam conceitos de
nada, só fazem o que interessa : existir. Mas se sentisse alguma coisa com certeza seria felicidade, por
deixar a Antonia de bem, feliz por cuidar de uma planta pela primeira
vez na vida e eu feliz em descobrir que sou um idiota tentando fazer
de conta que é uma planta pra sentir e escrever como uma delas...
É Ophelia, você sabe florir, alegrar, perfumar... e eu... só te
olhar numa foto porque a Antonia pediu uma historinha...
Linda crônica, Guilherme. E será que elas não sabem nada, mesmo?...
ResponderExcluirEste pensador, viageiro entre Sois
ResponderExcluirEsta Ave pousada em mil embarcações
Este barco que passa sem vela ou remo
Esta arca repleta de vibrantes emoções
Esta mestiça flor de açafrão
Este ramo de espinhos cravados na mão
Esta alma que não ousa largar opinião
Este homem vestido de solidão
Ouvi um som profundo e breve
Vindo de uma perdida lembrança
Toquei de leve os trincos da memória
E senti o golpe frio de uma afiada lança
Boa semana
Doce beijo