terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ophelia, a orquídea de Antonia.

         Nunca escrevi um texto a pedido de alguém, sempre há uma primeira vez!


Coitada das duas, da Antonia e da Ophelia, a Antonia que pensa que é a dona da Ophelia e da Ophelia que vive presa num vaso dentro de um apartamento, nunca experimentou a liberdade de estar na natureza, é cria de cativeiro... Na floricultura pelo menos tinha a companhia das outras orquideas sem donos e sem nomes. Coitado mesmo sou eu, que nunca leu Sheakspear e nem sabe da história da Ophelia, e mais coitado ainda se Caeiro me visse falar isso de uma planta. Meu Deus! Falar que uma planta é uma coitada. Eu não sei nada a respeito da morte dele, mas se foi enterrado está se revirando no túmulo! Coitado do Caeiro se pudesse ler esta bobagem que escrevo...
Eu estou aqui, olhando para uma foto da Ophelia florida, tentando imaginar o que ela sente ou pensa. Ela não sente ou pensa é nada. Ela é que é feliz! Não tem cérebro, essa porcaria que só me enche a cabeça...
É...
Viva a Ophelia que não tem cérebro, que não sabe que exite mas existe, que não sabe que é orquídea e sabe florir, que não fala e nem escreve. Se é feliz? Provavelmente não, plantas não lêem e nem escrevem dicionários pra definir, não criam conceitos de nada, só fazem o que interessa : existir. Mas se sentisse alguma coisa com certeza seria felicidade, por deixar a Antonia de bem, feliz por cuidar de uma planta pela primeira vez na vida e eu feliz em descobrir que sou um idiota tentando fazer de conta que é uma planta pra sentir e escrever como uma delas...
É Ophelia, você sabe florir, alegrar, perfumar... e eu... só te olhar numa foto porque a Antonia pediu uma historinha...

2 comentários:

  1. Linda crônica, Guilherme. E será que elas não sabem nada, mesmo?...

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  2. Este pensador, viageiro entre Sois
    Esta Ave pousada em mil embarcações
    Este barco que passa sem vela ou remo
    Esta arca repleta de vibrantes emoções

    Esta mestiça flor de açafrão
    Este ramo de espinhos cravados na mão
    Esta alma que não ousa largar opinião
    Este homem vestido de solidão

    Ouvi um som profundo e breve
    Vindo de uma perdida lembrança
    Toquei de leve os trincos da memória
    E senti o golpe frio de uma afiada lança

    Boa semana


    Doce beijo

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