A PALAVRA
Carmo Vasconcelos
Seja escrita ou falada,
seja rimada ou cantada,
a palavra é milagrosa!
Tão milagrosa que a gente
a manipula e a sente
como arma poderosa!
Ela é desprezo e amor,
estrume, pólen e flor,
estrela, lama e chão;
pacifismo, violência,
pornografia, inocência,
praga e também oração!
É perfídia, honradez,
abnegação, mesquinhez,
raiva, beijo e ciúme;
também é água da fonte,
maré, abismo e ponte,
degelo, paixão e lume!
Por vezes, é alimento,
é sol, chuva, fermento
que sustenta e aduba;
por outras, é sofrimento,
luxúria, vício, tormento,
e açoite que derruba!
Com ela o mundo se espanta,
por ser satânica e santa,
bálsamo e droga infecta;
guilhotina e perdão,
liberdade e prisão,
vómito de boca abjecta!
Pode ser batalha ou trégua,
conforme a bitola e régua
do espelho da consciência;
também é rosa e espinho,
cardo, jasmim e carinho,
escravidão, independência!
Ela é freira, meretriz,
pântano, pomar, raiz,
pureza e poluição;
é profana e sagrada,
afago e chicotada,
desavença e comunhão!
Mas, para mim, é um fogo
e um mar onde me afogo,
eternidade e momento;
êxtase, estupefacção,
poema, contemplação,
bailado do pensamento!
E para todo o Poeta...
A palavra é a dilecta,
eterna amante fatal!
E o Poeta quando parte,
só deixa como estandarte
a sua amante imortal!
***
Lisboa/Portugal/1997
In E-Book “Luas e Marés”/2006
***
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