segunda-feira, 11 de abril de 2011

MARIA RITA





MARIA RITA






"Meu sonho de sociedade ultrapassa

o limite de sonhar que aí está".

Paulo Freire





Maria Rita, do Piauí, apareceste na TV; tão sofrida, combalida

e desnutrida; retrato vivo da fome, só comes bofe de bode

nessa vida de agruras, nessas terras tão distantes do sertão.

Maria Rita, nessa desdita, nessa labuta insana, desmoronas, pois

não há como resistir; sem guarida, sem comida, sem sustento,

não há como sobreviver. No sertão do agreste a fome é uma peste,

a miséria predomina e mina as forças do bravo sertanejo que muito

ainda peleja e suporta. Na labuta do dia-a-dia, nesse sofrimento sem

fim, a fome, tuas entranhas devora; nessas terras estranhas, esse

sol escaldante, tão impiedoso, tuas faces queima e teu rosto enruga;

porém mais impiedoso ainda é o tal sistema social, tão desigual,

mantenedor desse quadro terrível, dantesco e tão desolador...



Quantas mais Marias Rita ainda se findarão assim, tão anêmicas,

sem forças, dessa maneira, desvalida, sem eira nem beira, tão

desassistida, a se apoiar num muro de arrimo, seu destino?!

Até quando teremos essa visão de morte, assim brutal, desumana,

de um chocante quadro dantesco? Teu último e fraco suspiro, num

tão sofrido respiro, sem esperança de bonança, ecoa no coração

daqueles que têm humanidade; tua vida, Maria Rita, findou-se

assim, em condição sub-humana, mas de ti emana aquele grito

lancinante do teu sofrimento maior, da angústia infinita, a bradar

por justiça; sofrimento latente, coração valente, voz gutural,

testemunha sem igual da prevista agonia final... Morte anunciada

e, sem dúvida, triste, lamentável e tremendamente fatal e imoral...



Eunice Rodrigues de Pontes

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