quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Dia do Poeta, esse fingidor... por José Antonio Zechin

Dia do Poeta, esse fingidor...

José Antonio Zechin




Este dia já passou, foi em 20 de outubro. Quem se lembrou?... Só os próprios poetas, imagino. Afinal, poetas são simplesmente uns fingidores, como dizia Fernando Pessoa. Ou invisíveis, diria eu. Recebi cumprimentos de uma amiga com o seguinte texto de Tereza Azevedo: “Hoje comemoramos o Dia do Poeta, o nosso dia! Dia daqueles que fazem da vida uma constante poesia. Que colocam beleza nas monstruosidades do mundo. Alegria nas tristezas e amam o amor com loucura. Daqueles que, como nós, expõem-se em clamores, declarações, declamações, choros, risos, fantasias, em um palco que a vida monta e desmonta a cada dia”. Gostei disso. O palco da vida é mesmo montado e desmontado a cada dia. E nós nos transformamos em atores da efemeridade. Tudo dura muito pouco. Pintamos a cara para esconder a tristeza, como palhaços que querem trazer o riso onde reina a dor. Poetas se arriscam em acrobacias num mundo sem redes, fazem piruetas no céu tendo apenas as tênues nuvens para aparar a queda. E quando caminham sobre cordas suspensas nos precipícios, um tombo pode ser fatal. Mas poetas se arriscam, pois sem riscos a vida não vale a pena. Nossas canetas usam sangue como tinta para escrever um poema azul. O poeta é esperto. Ele tira a dor de dentro de si e a coloca num pedaço de papel. Para que os outros se apropriem de sua ilusão e sua dor. Assim o poeta faz a catarse de sua alma.

Como disse Fábio Rocha, “a magia da poesia é encher a lua vazia, aproximar o tempo distante, chorar nos ombros da alegria, eternizar um mínimo instante”. Os poetas estão comprometidos com as distâncias e os instantes, com um mundo sobre o nada e o tudo, com a magia das palavras e dos entendimentos sutis. Nada é exato para o poeta. Tudo é transformação. Borboletas podem ser flores que voam, rosas exalam perfumes perdidos nos jardins de um amor ausente, ventos se tornam mensageiros secretos. Manoel de Barros escreveu que “as coisas que não existem são as mais bonitas”. Por isso o poeta tem a missão de inventar as coisas que não existem. O filósofo e teólogo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855) ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer e o filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.), ao chegar ao fim da vida, disse, humildemente, que só sabia que não sabia de nada. Portanto, não há salvação. Só podemos poetizar. Nunca saberemos o significado da vida. O que estudamos nos livros tem certa relevância. Mas a vida é renovada a partir dos fósseis poéticos. O que estava antes e o que virá depois. Poetas fazem esta transição do passado com o inimaginável.

Eu me considero um poeta, não pela qualidade duvidosa do que escrevo, mas pela naturalidade da minha alma. Eu ainda acredito no inexistente, que é a única maneira de entender as raízes e os frutos. Tudo se forma na dúvida. Os poetas são tradutores do nada. O que escrevem se torna uma simbologia existencial, palavras escritas à espera de quem queira decodificar o sentido da vida. Sim, o poeta é um fingidor. A poesia, uma dúvida. O leitor, um cúmplice.

2 comentários:

  1. Zechin,

    Meus parabéns por esta bela crônica, muito bem escrita e agradável de se ler; é também um belo texto poético.
    Abs.
    Eunice R. de Pontes

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  2. Na Viagem do Tempo

    Na janela do tempo eu observo
    Raios de sol vindo a me aquecer
    Sopra ventos suave em meu ser
    Visões panorâmica em mente levo!

    Voou alto, bem longe em pensamento
    Bem a cima das estrelas me encontro
    Entre brilhos a escutar belo canto
    Era a lua a me trazer muito acalento!

    A festa continua em sua orquestração
    Pois o relâmpago trazia seu clarão
    Ouvi o som do trovão, seu rebumbar.

    Já aqui no meu quarto eu ressonando
    Vi, em nuvens eu estava retornando
    Da viagem do tempo... vim me acordar!

    Laerço dos Santos

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