terça-feira, 26 de novembro de 2013

Escrevo, Logo Existo


















No meio de tanta gente brilhando,
o que é que eu faço?
Uso palavras de aço
e continuo cortando,
ou cego meus modos
e vou copiando?

Leio... Sei que estou errado.
Mas não estou preocupado
em seguir um modelo...
Eu quero mesmo é dizer
as coisas, do meu modo.

Quero a liberdade de fazer
e deixar a coisa “rolar”.
Aconteça o que acontecer,
não quero é me preocupar.

Escrevo, logo existo.



A.J. Cardiais
imagem: google

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O almoço e a saudade

E lá estavam as duas grande amigas e companheiras, uma sentada a mesa iniciando a refeição. Dentro de alguns minutos uma delas deveria voltar ao trabalho; bem próximo de onde mora. Isso lhe permitia almoçar em casa todos os dias. Já a outra, a mãe, estava a beira da pia já adiantando a lida para se permitir um descanso durante a tarde, de um modo ou outro já tinha umas pernadas de vida a mais que a filha caçula.
Conversavam sempre, assunto sempre havia em base de respeito mútuo. E diga-se de passagem : ah, como havia uma conta de vida alheia no meio dessas conversas.
Enquanto uma cuidava das coisas sobre a pia a outra almoçava vagarosamente. A mais velha lhe perguntou o que estava acontecendo. A resposta foi certa, simples e objetiva. 'Saudade, mãe!'
-- E quando é que ele volta?
-- Dia vinte e sete.
-- Come tudo menina, se não já sabe!
-- Não se preocupe não, estou me alimentando direito, é que a minha cabeça vai longe e esqueço de por a comida na boca. Sinto fome sempre, mas a saudade a obscurece um tanto.
-- Será que ele vai te trazer presente?
-- Sei lá mãe! Pelo que conheço é capaz de aparecer com uma coisa que eu nem sei o que é, e vai me contar uma história tão comprida e cheia de floreios sobre o significado do lugar onde comprou, quem passou por lá nos séculos anteriores, etc. Sabe-se lá! Bem possível até de me aparecer com uma pedra que achou bonita no meio do caminho. Ah mãe, você sabe como ele é, e além disso foi com o dinheiro curto, bem possível gastar tudo em comida e bebida e se esquecer de me comprar algo... Não me importo, quero que ele volte logo.
--É verdade menina! Como é que pode beber e comer daquele jeito e não engordar? Quando vocês comem aqui no fim de semana eu fico olhando ele comer... Na verdade eu gosto qundo ele come daquele jeito, é que ele cozinha tão bem... se come minha comida assim é porque deve ser boa mesmo.
--Mãe, você está maluca? Sua comida é ótima, ele detesta feijão e a senhora nem sabe.
--Verdade? Mas por que ele sempre repete o arroz e feijão, sem pegar mistura?
--É que ele diz que seu feijão é mágico.
A mãe vendo a filha quase a terminar com a comida do prato tranquilizou-se e voltou a pia. De repente um silêncio. Volta-se para trás e olha para a mesa : a filha havia comido toda a comida com exceção de uma azeitona, para a qual olhava e chorava sem parar.
--Tudo bem filha, logo ele volta, come a azeitona pra mim lavar o prato.
--Não consigo mãe, ele sempre pede as azeitonas do meu prato.
--Essa você pode comer, não tem caroço.
--Como assim?
--Ele me disse uma vez que não gosta de azeitona sem caroço, não tem graça! Você não sabe disso?
--Sei sim mãe, mas quem come as azeitonas do meu prato é sempre ele, com ou sem caroço. Come a senhora, senão me atraso pra voltar.
E a 'menina' levantou-se fez sua higiene, despediu-se da mãe e saiu.
A mãe ficou olhando o prato, a azeitona e sentiu saudade do genro. Chamou o cachorro e deu a azeitona pra ele, lavou os últimos utensílios e pensou : 'Afinal, às vezes ele dava uma azeitoninha pro cachorro. Não ia se incomodar.'

originalmente publicado em : UmDiaEscrevoMais

domingo, 10 de novembro de 2013

Celebro só

Celebro só, minha existência
Sabendo que a meu lado
Existe aquilo que creio
Aquilo que sei ser maior

Só, celebro a juventude acabada
A parca maturidade ainda por vir
A dor que me enobrece
Porém a carne que só, perece

Percebo-me adiado até que...
O inevitável atinja o dia
A que nada mais preste
E que por fim nem procria

Mas da peste me livro
Da veste que nunca foi minha,
E nem ao menos a quis,
Terei-a, mas despido
Serei comido
Serei cuspido
E deixado apenas
Na minha própria memória
Sepultado e lacrado no passado

Porque o novo ainda por vir
Quer morte, quer vida
Quer dor, quer alívio
Quer só ser e nunca ter-se.

originalmente publicado em : UmDiaEscrevoMais

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

e feito Cruz e Souza

tu menina, que te achas especial
uma princesa perfumada, tal e qual
mas qual o que?

que já o dito na ironia dos vermes,

nos apodrecimentos da matéria
irás cheirar mal como outra qualquer
e nem terás o privilégio de Cubas
que humildemente dedicou as memórias
ao verme que lhe devorou a carne.

originalmente publicado eme feito Cruz e Souza

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Segredos

(...enquanto alguns segredos tenebrosos ficam
escondidos sob
cinza e areia
a menina segue
com perdas necessárias
e memória seletiva
se permitindo viver
um dia de cada vez
uns de fúria insana
outros as cegas
de uma fraca alegria sacana...)

Elizabeth Oliveira

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

E agora?


Aquela voz me entorpece, me tonteia
Aquele olhar me põe a nu
São apenas lembranças
Que junto a este silêncio
Compõem um vazio imenso
Que já não me larga
Mesmo depois de tanto tempo
São lembranças…
Ou serão carências minhas
Que ora foram tuas? Não sei…
Só sei que estão comigo
Até quando perceberes
Que deves voltar pra mim


Ilza Nascimento

Curitiba, 4 de novembro de 2013