Joaquim Moncks
“ENVELOPE
Igor Stefano
O rosto da alma e do conteúdo;
Proteção de manifestações manufaturadas;
Lata do líquido inevitavelmente bebido;
Promotor de curiosidades atrevidas;
Ele traz pingos de secas lágrimas, ou não.
Quando deseja forja, mente, ou totalmente se abre...
Cobre com seu manto materno aves, naves,
outros endereços e adereços mutáveis.
Porque não escrever a carta no envelope...
Será que o medo ganha da vontade de liberdade...
Ou o conteúdo é um fundo com porta e chave.
Escrituras andam pelas ruas vestidas de nua...
A carcaça sinaliza mistérios decifráveis...
Virão percepções claras e noções investigáveis.
Viajante solitário quase sempre pálido;
Guardião do inesperado, do inimaginável.
– pelo Orkut, em 22Set2010.
"Envelope" é um apreciável exemplar do PO/ENIGMA, como, na década de 60 do séc. XX, os experimentadores do poético denominaram este tipo de expressão.
O autor não dá uma deixa de decodificação dos signos para o leitor e provável analista. A única possível abertura está na terceira estrofe, onde o autor joga a ficção e o real em razoável exercício rítmico, forte no ficcional de "... Escrituras andam pelas ruas vestidas de (?) nua...", no qual concede à assonância rua = nua, rimando internamente (no mesmo verso), à moda da velha escola, num cochicho saudosista... Parece que há erros de concordância, ou algo confuso: pra quê a preposição “de”? O palpável não seria: “... pelas ruas vestidas, nuas?...”
No entanto, havia se perdido o experimentador, no 1º verso da 2ª estrofe com o exagero metafórico em antítese “a la Fernando Pessoa”, porém muito longe da lucidez deste gênio da literatura universal. O verso "Ele (o rosto) traz pingos de secas lágrimas, ou não." parece-me forçado e nada bem forjado. Aparentemente, sente-se que não há nenhuma preocupação com o receptor, somente ao autor (ou seria o seu alter ego?) condiz o verso e o seu discurso. Tudo subjetividades além da conta...
Todavia, é preciso que se deixe bem claro: não cai o texto no lugar comum que se encontra às escâncaras por aí, nos domínios da NET e em exemplares impressos de Coletâneas e Antologias de qualidade, no mínimo, poeticamente duvidosa.
Em arte poética não se pode fazer concessões ao PROSAICO e essas escorregadelas não ocorrem nessa peça de nítida experimentação do NOVO. É fácil perceber que o autor está buscando caminhos em sua criação estética, trabalhando com o universo sensorial e intelectivo de seus 28 anos.
“Viajante solitário quase sempre pálido;/ Guardião do inesperado, do inimaginável.” É um bom final, fechando o poema com ritmo e sugestionalidade. Lembra o schocking do micro-conto americano que vem sendo cada vez mais utilizado pelos jovens poetas de lá e daqui.
Desta sorte, resta que o analista crítico também é “Viajante solitário quase sempre pálido...”, por pouco haver conseguido decifrar do discurso. Talvez possa vir a ser a “carcaça dos mistérios” de que o autor nos fala no poema. Só que esta não é “decifrável” como quer o poeta no seu verso...
– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.
http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/2520589
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