DEVORO-TE

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Das tuas noites sou mistério,
Substância que te compõe,
Veios aflorados, emergentes...
E penetro onde te escondes,
Nas páginas do teu espanto,
Faço-te sorrir e chorar,
E te provoco e te arranco do sério
E te enfrento, e te deixo lívido,
A ranger os dentes...

E te aceito assim, do teu jeito,
Inalo teu cheiro de cigarro,
De perfume, suor e uísque...
E te abrigo, sem preconceitos,
Na rede dos meus braços.
Sou flor de laranjeira,
Sou cheiro de mato,
Alívio das tuas dores,
Repouso do teu cansaço...

E amo-te...
Esculpo teu corpo com mãos suaves,
Invento desenhos na tua pele nua,
Mordo-te a boca, bebo-te a saliva,
Ardente, me entrego e me estendo,
Noite à dentro, febril te engulo,
Feroz te sorvo os dedos,
O umbigo, as coxas, o sexo,
Devorando-te por inteiro...
E no arrebol, ainda estrelado,
Aperto-te e te faço mergulhar
Fundo, no fosso das entranhas.
E abraço teu corpo tremente...
E aplaco todos os demônios
Que em ti se agitam.

Ceiça Lima.

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"Eu faço parte desta história!"