Ah, doutor! Preste bem atenção no que eu tenho a lhe falar. Não tenha pressa em prescrever-me nenhum remédio, Ouça primeiro todas as minhas angústias e anseios. Coloque seus ouvidos à minha disposição por alguns instantes. Mas, por favor, olhe nos meus olhos.
Não atenda ao telefone enquanto estivermos conversando,
Não deixe que enfermeiras entrem para nos incomodar.
Preciso muito de alguém que me escute de verdade.
Sinto-me cansada, carrego o peso do mundo nas costas.
Não vejo graça na vida, pois sei onde tudo vai dar.
Perdi as forças para lutar, a vontade de sorrir, de trabalhar.
Trabalhar para que? O que o futuro me reserva?
Não tenho direito a nada, apenas deveres.
A vida tornou-se uma rotina sem graça e aterrorizante.
Os bandidos estão por toda parte, espionando...
Esperam apenas um vacilo para atacar.
Querem levar o fruto do meu trabalho,
Querem levar minha dignidade,
Querem levar minha paz... Ou será que já levaram?
Ah, doutor!
Será que há cura para mim?
Será que ainda posso crer no ser humano?
Tudo está fora de ordem... De quem é a culpa?
Existem culpados?
Sinto-me impotente, fragilizada e cansada. Muita cansada.
Se eu pudesse, não veria mais gente.
Cresce um grande ódio dentro de mim,
Quando sei que sou “obrigada” a votar.
Votar para que? Votar em quem?
Não sei quem são os piores...
Os bandidos que nos assaltam à mão armada
Ou os bandidos que vivem por aí às nossas custas,
Fingindo trabalhar, criando leis absurdas,
Morando em mansões e palacetes,
Com filhos nas melhores escolas do país,
Quiçá nas melhores universidades internacionais.
“Tudo às nossas custas”.
Ah, doutor!
Por que psicopatas matam crianças e jovens inocentes,
Enquanto os piores bandidos andam soltos por aí,
Usando ternos caríssimos, pagos com o nosso dinheiro?
Ah, doutor!
Está tudo fora de ordem.
Sinto uma mágoa profunda pela impotência que me é imposta.
Penso que para a minha dor não há remédio, mas...
Antes que eu cometa uma loucura,
Vim aqui para pedir-lhe ajuda,
Preciso urgentemente me curar.
Minha dor é tão grande que não consigo mais suportar.
Será que o doutor pode prescrever-me um remédio para dor na alma?
Sandra Lamego
www.sandralamego.com
Sandra querida, de fato temos que nos indignar sim. Tudo se tornou tão estranho e sem propósito, os valores humanos estão tão absurdos, mas perdermos a fé não podemos. Creio que o dom de escrevermos é uma arma poderosa para contestarmos tanta violência e dor. Parabéns pelo grito por socorro!
ResponderExcluirBeijos
Teresa Azevedo