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Crônica: 

Marcha da Maconha! Eu Fui?

           Poxa! A Marcha da Maconha foi semana passada, pelo menos era pra ter sido. Eu passei o ano todo me preparando para lutar pelos meus direitos de fumar umazinha sem ninguém encher a paciência. E o dia D, ou seria o dia M? Sei lá, mas só sei que estava marcado para semana passada a nossa marcha pela liberdade dos maconheiros. O que eu me lembro foi que acordei, minha mãe me ofereceu um café da manhã, mas quem é que vai comer no dia da Marcha da Maconha? Eu pelo menos não. Eu fui acender meu cigarrinho, fumei tranquilo, mas um só não é mais suficiente, eu preciso de, pelo menos, cinco para ficar alegrinho, de boa. Mas naquele dia eu fumei uns dez, logo que acordei. Fiquei doidão, tudo era lindo e colorido!

          Nós tínhamos combinado de nos encontrarmos na praça central para dar início à reivindicação pela liberação da maconha. Acho que eu fui, tenho uma lembrança de ter entrado no meu carro e dirigido até lá. Lembro também de ter recebido muitas buzinadas, o povo tudo andando na contramão. Será que não ensinaram esse povo as leis de trânsito? Poxa, é errado andar na contramão! Eles fazem tudo ao contrário e ainda ficam me buzinando? Sacanagem! Minha namorada já estava doidona também, a ocasião era especial, e fumamos todas!

          O que aconteceu depois que chegamos lá eu não me lembro muito bem, só sei que a turma do bagulho estava toda lá e, antes da marcha, nós usamos outras coisinhas pra dar um toque final no barato. Meu amigo me disse que era Cocaína, mas eu não sei não, foi muito louco! A coca tava batizada, certeza! O que eu me lembro, foi daquelas cores todas dançando na minha frente, parecia que eu estava num caleidoscópio gigante, bem no centro dele, apreciando aquelas formas e cores de perto. A namorada sumiu, não a vi mais, aliás, eu não vi mais nada, não me lembro de mais nada. Não sei nem como foi o começo da marcha da maconha. 

          Imagino eu que, a hora que eu fiquei realmente alucinado, ainda era de manhã. Mas também não tenho certeza. Só sei que, depois de uma viagem alucinante eu acordei no hospital, todo quebrado. Meu carro deu perda total, acabou. Dois amigos meus e minha namorada, que estavam no carro, morreram na hora. E outro amigo está em coma induzido, com queimaduras graves e as pernas amputadas. Eu tive múltiplas fraturas, o médico falou que eu estou tetraplégico, que terei que passar o resto da vida em uma cama, respirando com a ajuda de aparelhos. 

          Não fui ao enterro dos meus amigos, nem da minha namorada, não sei se meu outro amigo sobreviverá, não sei de mais nada. A única coisa que eu sei é que estou precisando fumar um cigarrinho de maconha, estou numa fissura danada, mas eu não posso nem falar, com esse tudo enfiado na minha boca, quanto mais pedir um cigarro! Mas será que a Marcha da Maconha surtiu resultado? Será que teve a Marcha da Maconha? Será que eu fui?

Mi Guerra