terça-feira, 28 de setembro de 2010

DE QUANDO OS DESAMORES JÁ SÃO PÁSSAROS

Joaquim Moncks

(a propósito de que o “o poeta é um fingidor”, segundo Fernando Pessoa)

No desabrochar dos poemas, a gente inicia cantando os desejos de ser e ter. De lambuja, algumas eventuais falsidades. Com o tempo, descobrimos que isso não basta: a dor de um não é a dor do outro, em quem o sofrimento nem repercute. Mesmo assim nos confessamos possessos de ausências. A descoberta do Homem como exemplar único se dá muitos anos depois, quando os desamores já são pássaros. Aí então se olha o todo sem lamúrias. Está posta a coroa de espinhos. E nos redimimos na outra margem.

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/10.

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