sábado, 13 de agosto de 2011

ARQUIVO



ARQUIVO
CARMO VASCONCELOS


Tanta letra posta ao canto,
Tantos motes, tantos fados…
São agora encarcerados
No arquivo morto de espanto.

Tantas palavras escritas,
Tantas horas de emoção,
Vivem hoje em reclusão
Tal como amantes proscritas.

Tanto enlevo acalentado,
Tanto enlace em poesia,
Odes de fogo e euforia,
Verbo agora amordaçado.

Tanta noite sem cansaço,
Tanto mimo, tanto beijo,
Hoje são findo cortejo
Interditado no passo.

Tanta memória no vão…
Tantos megas, tantos gigas,
Lembram castradas espigas
Nunca chegadas a pão.

Tanta semente lançada,
Tanto regadio de encanto…
E desse lavrado tanto,
Deu campo arado de nada.

Tanta sílaba gritada,
Tanta mágoa no dilema,
Destruíram o poema,
Virou trova amargurada.

Mas ao rodar esse arquivo
E a laje que o sepultou,
Uma lágrima tombou
Ao ver que o cerne está vivo.

***
Lisboa/Portugal
11/Setº/2010

***

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